Por causa disso, o interessante em livros desse tipo não é exatamente o que se conta, mas como se conta. No caso de Nic Sheff, ele consegue se destacar com o segundo. A escolha é a de uma narração em primeira pessoa, carregado de marcas de oralidade que dão a sensação de que ele está ali, na sua frente, contando como um rapaz de 18 anos se envolveu com a metanfetamina e luta para retomar (e agora manter) o controle da própria vida.
Apesar de marcar o tempo desde uma primeira recaída e o encontro com uma namoradinha dos tempos da adolescência, Sheff recorre várias vezes aos flashbacks, como que buscando explicar as razões pelas quais se envolveu com drogas. Com isso ele vai conquistando aos poucos a atenção do leitor que em um primeiro momento acredita que não há o que leve um menino inteligente e bem de vida para esse caminho. Com sua história, Sheff lança um alerta para todos, pais e filhos: não basta viver em um mundo cor-de-rosa para se safar dos horrores da droga.
Algo interessante em Cristal na Veia é que em nenhum momento o autor se apresenta como ex-viciado. Ele mesmo diz acreditar que isso não existe – e na orelha do livro a informação sobre ele diz que Sheff trata-se de um dependente de álcool e drogas. Além disso, há uma virada na história que parece bastante surpreendente.
Lá fora Cristal na Veia foi fenômeno de vendas, figurando na lista dos mais vendidos de vários jornais e revistas. Lá também já foi publicado também Beautiful Boy, escrito por David Sheff e narrando o outro lado da história: o ponto de vista do pai de um viciado. Caso tenha ficado curioso e queira ler um trecho do livro, o primeiro capítulo está disponível no site de Cristal na Veia.
(Esse post foi originalmente publicado no blog Meia Palavra no dia 26/07/2009)