E a coisa fica tão distorcida que em determinado momento achamos que frases como a de Mickey para o repórter You’re buying and selling fear. You say “why?” I say “why bother?” são o máximo. É isso aí, um F* bem grande para a mídia! A mídia é malvadona! Etc. Era o que minha cabecinha adolescente conseguiu retirar de importante da história.
Eis que hoje a tarde assisto “Aconteceu perto de sua casa” (título original: C’est arrivé près de chez vous) e começo a repensar Assassinos por Natureza. Essa produção belga saiu dois anos antes do filme de Oliver Stone, mas de certa forma a premissa é meio parecida. Um grupo filma documentário sobre um assassino, filmando o sujeito não só cometendo os assassinatos mas também dando suas opiniões sobre o que faz.
Aí penso no título em inglês do filme, Man Bites Dog, e fico lembrando das minhas aulas de redação em Jornalismo. Professor Zanei dizia “O cão morde o homem não é notícia. Notícia é o homem morde o cão”. Talvez por conta disso eu tenha acabado vendo o filme de um jeito que outras pessoas não veriam, mas o que me chamou a atenção foi que o grupo filmando o assassino o filma mesmo quando ele está matando uma criança. Nada parece abalar aquelas pessoas, pelo menos não moralmente. Informar é mais importante do que delatar?
Por causa da forma passiva como os jovens acompanhavam os passos de Ben que pensei novamente no casal Knox. Sim, eu sei que é ficção, e é colocada ali de forma exagerada (pelo menos não lembro de termos chegado perto do endeusamento de assassinos como na película de Stone). Mas hoje enquanto via Aconteceu perto de sua casa, me dei conta do óbvio: se tem quem gravaria um documentário assim na vida real, é porque tem gente que assiste. A mídia é o que nós queremos dela. É como dizia aquela citação do Nietzsche (que eu só conheço porque li numa história do Wolverine, hehehe): quando você olha para o abismo, o abismo olha para você.
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