Do começo: publicado em 1991 quando eu ainda brincava de Barbie e achava que Stephen King era a coisa mais cool no mundinho dos livros (cofcof), O Evangelho Segundo Jesus Cristo relata a história de Jesus (ah, sério?), desde a gravidez de Maria até o momento da crucificação (o legal de falar sobre esse livro é que é meio difícil lançar algum spoiler há,há).
Acredito que o charme da obra fique por conta da humanização de Cristo. Por humanização quero dizer “tirar qualquer aura de perfeição que a Bíblia passa no Novo Testamento”. Aliás, uma coisa interessante nessa construção da figura humana de Jesus está no fato de que Saramago coloca a fase “milagreira” do Messias para depois da metade da obra. Boa parte é primeiro focada em Maria e só com a morte de José (gente, e eu que nunca tinha pensado no que diabos acontece com José!) Jesus passa a ser a personagem principal, digamos assim.
A relação dele com Maria Madalena (aqui Maria de Magdala) também é outro ponto que contribui para o desenvolvimento da “humanidade” de Jesus: ele sente e age como um homem qualquer. Ele ama Maria, uma prostituta, mas não consegue viver na casa dela porque a vizinhança zoa direto com ele, sendo a escolha do casal queimar a casa e se mandar. Ele não abre mão do amor como muitos homens fariam facilmente, mas mesmo assim mostra que sente… hum… orgulho? É, digamos que orgulho, como um sujeito qualquer.
Outro detalhe interessantíssimo é a questão dos milagres, e como são apresentados. Nesse caso deixarei uma citação do livro, até para vocês terem um gostinho do ótimo senso de humor do Saramago, do momento da transformação da água em vinho:
Se não fosse a voz do povo, representada, no caso, por uns servidores que no dia seguinte deram com a língua nos dentes, teria sido um milagre frustrado, pois o mordomo, se desconhecedor estava da transmutação, desconhecedor continuaria, ao noivo convinha, evidentemente, abotoar-se com o feito alheio, Jesus não era pessoa para andar dizendo por aí, Fiz uns milagres tais e tais, Maria de Magdala, que desde o princípio participara do enredo, não iria pôr-se a fazer publicidades, Ele fez um milagre, ele fez um milagre, e Maria, a mãe, ainda menos, porque a questão fundamental era entre ela e o filho, o mais que aconteceu foi por acréscimo, em todos os sentidos da palavra, digam os convidados se não é assim, eles que voltaram a ter os copos cheios.
Sério, muito bom. E não bastasse isso, ainda tem a figura do Pastor (ok, aqui eu posso revelar spoilers então não vou me prolongar muito sobre a personagem), que rende ótimos diálogos com Cristo e cuja frase “Não aprendeste nada, vai.” fica ecoando na memória mesmo após terminar a leitura. E sim, tem a conversa com deus e o diabo na barca, que na verdade foi a primeira coisa que ouvi falar sobre o livro (lembro que meu irmão estava lendo esse trecho na praia, em um ano novo qualquer).
Resumindo, é um livro fenomenal embora não seja tão bom quanto Ensaio Sobre a Cegueira. A cada livro que leio mais e mais vejo como era bobagem minha essa “Saramagofobia”, achando que não seria capaz de acompanhar uma narrativa só porque o sujeito não usa dois pontos e travessão para os diálogos, até porque no fundo é só isso que faz a obra dele parecer mais “difícil”. O Evangelho… é simplesmente imperdível.
Essa foi a primeira obra que li de Saramago – então, imagina como fiquei confuso de início. Para mim, ainda é uma das que mais gostei. E olha que li até uma boa quantidade de livros dele: Ensiao sobre a cegueira, A viagem do elefante, As intermitências da morte, Ensaio sobre a lucidez, Todos os nomes, A jangada de pedra, A caverna, Memorial do convento e, como já tinha dito, O evangelho segundo jesus cristo.
É difícil até dizer qual seria o melhor deles, mas talvez minha preferência fique em O Evangelho, Memorial do convento e Ensaio sobre a cegueira.
“Jesus não era pessoa para andar dizendo por aí, Fiz uns milagres tais e tais,” Hahahahaha!
Adorei teu blog, cheguei aqui porque tava limpando o computador e reencontrei superstar do sonic youth, resquício de quando assisti Juno. Até hoje adoro ouvir.
Quanto ao Saramago, puts, acho muito revolucionária toda a sua obra. Engraçado a cara das pessoas que o leem de primeira vez, e às vezes me perguntam indignadas: “poxa, mas isso não é errado? esse jeito de escrever…”Parece que a escola, o mundo nos pôs na cabeça uma idéia muito rígida de certo e errado, a ponto de que quando alguém sai dos trilhos, causa incômodo a todos. Mas… o que poucos sabem é que esse estilo não é exclusivo do Saramago. Acho que é alguma coisa que foi sendo construída dentro da literatura portuguesa, a partir do modernismo, e não pegou aqui pelo Brasil. Tem um livro, muito muito bom, chamado “Pequenos burgueses”, de Carlos de Oliveira. É de 1948, e não é só no estilo que se aproxima de Saramago, mas no bom-humor tb, nas ironiazinhas, fácil fácil de ler. Achei genial quando li. Chega, falei demais.
Este também foi o meu primeiro Saramago, após isso apaixonei-me por sua escrita, por sua observação e por sua ideologia.
Podemos dizer dizer que são poucos hoje que vivem conforme uma ideologia adotada, e Saramago não se perde em nenhum momento da postura que adotou.
Um grande homem, um valoroso oservador da umanidade, e um fantástico escritor.
Antes que eu tivesse a certeza que hoje tenho. eu andei conforme as leis de Moisés e os ensinamentos de Jesus Cristo.Nunca pertençi a nehuma religião exatamente. sendo simpatizante do espiritismo segundo allan Kardec. Ma eu observava um simples fato.Se nosso criador deu aos homens que se tornarão e já na época do profeta eram mals.Eu tinha a certeza de que Jesus Cristo teria o mesmo direito.Com um difernça, muita sabedoria, sempre respeitando e muito mais sabedoria na arte de amar plenamente.Assim que eu tiver oportunidade lerei os seus livros. Creio que há mais mistérios entre o céu e aterra. e que determinadas pessoas são abençoadas pelo espirito de Deusque as ilumina para a verdade.