A Bossa Nova, a Tropicália, as carreiras solo de Erasmo Carlos e Rita Lee, Tim Maia, Kid Abelha, Barão Vermelho, Titãs… Você pensa em qualquer coisa criada no Brasil até os anos 90 e pode ter certeza que tem o dedo desse Midani no meio. E mesmo nas figuras que ele não “descobriu”, nos grandes momentos desses artistas ele esteve presente (caso de Chico Buarque, por exemplo).
O melhor é que o tom da narrativa dessa autobiografia é quase como de um amigo em uma mesa de bar contando anedotas do passado. Um evento leva à outro, avanços e recuos no tempo, personagens entram e saem a todo momento. E não são quaisquers personagens, são AS personagens. Não é sempre que você ouve de Vinícius de Moraes, Elis Regina, Raul Seixas, Odair José e Nara Leão sob outro ponto de vista.
Com toda essa constelação musical presente na própria vida, é óbvio que o livro do Midani é leitura obrigatória para qualquer um que goste de música. Mas mais do que isso, é um prazer para quem reconhece nas histórias álbuns dos quais ele conta todas as histórias dos bastidores (como o dueto de Caetano e Chico Buarque, por exemplo).
E a visão da indústria fonográfica que Midani tem é simplesmente brilhante. Em dado momento ele consegue reconhecer até um dos fatores que trouxeram a crise para esse setor, que chegou com força total após a popularização do formato mp3: diz ele em dado momento que na pressa de obter lucro mais rápido, as gravadoras deixaram de investir em álbuns de desenvolvimento do artista para começar a focar na questão da canção de sucesso. O feitiço virou contra o feiticeiro quando as pessoas começaram a se questionar se valia a pena comprar um cd se eles gostavam/conheciam apenas de uma música…
Esse é só um exemplo do que pode ser encontrado em Música, Ídolos e Poder. Recomendo fortemente a leitura, e sugiro que busquem pelo livro rapidamente. Como todo caso de biografia, essa aqui já está rendendo um processo e pelo visto duas coisas podem acontecer. A primeira, é o livro ser retirado do mercado. A segunda, é um parágrafo ser retirado do livro – não que o segundo caso estrague o livro, mas sabe como é, deixa aquele gosto amargo de censura.
Pois é… não é à toa que citamos ele várias vezes no nosso livro sobre música independente. Mas na época o homem ainda era turrão e defendia as majors. Vou ler o livro só pelo prazer de ver ele fazer a “mea culpa”.
thanxs pela dica!
ele não faz bem um ‘mea culpa’ porque na hora de falar da começão de bola da indústria fonográfica ele tira o dele da reta e usa a terceira pessoa, se é que você me entende. a sensação que dá ao ler o livro é mais de “ó, no passado eu fazia assim, e aí chegaram esses caras* e fizeram assado e ferrou tudo”
*ele usa o termo “tecnocratas” para “os caras”