A Voz do Dono e o Dono da Voz

Eu estou bastante por fora das olimpíadas, até porque acordar cedo não é comigo, ainda mais para ver gente correndo, pulando e suando. Aí, por causa do horário do trabalho, acabei perdendo também a cerimônia de abertura, não que eu tenha qualquer tradição em acompanhar cerimônias, mas o fato é que fiquei meio “por fora” de diversas conversas por causa disso.

Aí hoje eu cheguei em casa e vi a notícia sobre a chinesinha que cantou “Ode à Pátria” durante a abertura dos jogos – e que teria emocionado diveeeeersas pessoas, na verdade estava dublando uma outra chinesa. Então você decide ir mais a fundo da história e saber por que, oh Deus por queeee fariam isso. E diz o responsável “Era uma questão de interesse nacional. A criança que apareceria diante da câmeras tinha que ser expressiva“.

O que a imprensa tem dito é que não é bem expressividade, mas beleza que eles queriam. A dona da voz, Yang Peiyi é uma criança ligeiramente mocréia, digamos assim. E eles queriam que tudo fosse perfeito, então pegaram uma criança “cute” para dublar a voz de Peiyi, que muitos já dizem aí ser maravilhosa e tudo o mais.

Fica aí aquela coisa ruim de quantos talentos não são deixados de lado por causa da beleza. Não digo só sobre modelo-atriz-cantora, estou dizendo no geral mesmo. Nós estamos a cada dia que passa mais obcecados com uma perfeição artificial, em alguns casos quase impossível de atingir (bonecas chinesas?). Hoje em dia não basta mais ser uma pessoa bonita, você tem que ser a mais bonita em um mundo de bonitos.

Acabamos todos nós entrando na mesma roubada, e se a vaidade adulta já não bastasse, estamos empurrando nossas crianças nesse turbilhão de neuras e falta de amor próprio. A propaganda dos anos 90 dizia que imagem não era nada e sede era tudo, atualmente já nem sei.