Das coisas que moldam nosso caráter

Acabei de ler um artigo sobre a versão mangá da Turma da Mônica e fiquei cá, lembrando de todas as ‘n’ revistinhas do Mauricio de Souza que li.  Sabe como é: cheguei até a acompanhar a chegada da revista da Magali e do formato “Gibizinho”1. Aí, sabeseláporque, lembrei de uma constante nas histórias envolvendo o Cascão, que aparentemente era mais “humilde” do que os demais amiguinhos: a moral “de que adianta dar valor aos brinquedos caros se você não sabe se divertir?” (ok, não era assiiiiiim que eu absorvia na época, só sabia que era importante saber que video game não é tudo na vida).

O engraçado é que no final das contas isso acabou moldando meu caráter, de certa forma. De um jeito meio hipócrita, talvez, mas eu era a menina que andava de bicicleta até um lugar bem longe de casa para sentar com a amiga num campinho e ficar falando na natureza (ahahahahaha, acabei de lembrar da vez que convidamos a Daniele para fazer isso e no final do dia uma olhou para a outra e disse “É, ela não entendeu como funciona”). Assim, eu não cresci com video game, mas de quando em quando achava que ter vários amigos para brincar de gato mia era muuuuuuito mais divertido do que ter a casa da Barbie, por exemplo. O que obviamente não era (pelo menos se você adorava brincar de Barbie, como eu).

De qualquer forma, valeu, Maurício de Souza, por permitir que eu pelo menos entendesse que o lado politicamente incorreto você não mostra para qualquer um. Nessa mesma esteira, tanta gente para agradecer. Penso aqui no diálogo inesquecível entre Cristóvão “Depardieu” Colombo e Sanchez no filme 1492: A Conquista do Paraíso. Algo mais ou menos assim:

Sanchez (olhando para Colombo, com desprezo): Você é um sonhador.
Columbo (apontando para a vista da janela): Diga-me, o que você vê?
Sanchez: (parando para olhar) Eu vejo telhados, eu vejo palácios, eu vejo torres, eu vejo catedrais que atingem… o céu! Eu vejo uma civilização!
Columbo: Tudo isso contruído por pessoas como eu.
(Sanchez não responde – chocado)
Columbo: Não importa o quanto você viva, Sanchez, tem algo que nunca mudará entre nós dois. Eu fiz. Você não.

De onde absorvi a importante lição de que é bom ser o melhor em algo, só para zoar alguém depois, hehe. Ok, não foi isso. Foi mais algo entre “Seja você o que faz” ou, “Melhor ser um sonhador mas cooperar com a civilização” e qualquer coisa por aí.

O que nos levaao último sujeito a que moldou meu caráter, o sr. John Lennon. Não foi bem ele, mas a Rede Paranaense, que tocava Imagine antes de iniciar a programação. É por causa dele que vendo os horrores do dia-a-dia eu penso que bem, eu não sou a única horrorizada. E um dia, sei lá, no maior esquema Colombo, construiremos civilizações perfeitas, nas quais poderemos trocar o “imagine” para “contemple”.

Oh, crap, estou sensível hoje. Então, antes de fechar o post, deixe eu mostrar minha admiração ao fato de 40 almas bondosas se manifestaram sobre o visual novo do Hellfire, me deixando em uma complexa sinuca de bico (confesso que estou tendendo a voltar para o preto, aqui no branco sinto como se estivesse postando no blog de outra pessoa).

E antes que eu me esqueça, uma curiosidade sobre Imagine: o Aeroporto de Liverpool – chamado John Lennon – tem um motto bem interessante, digamos assim. Abaixo da imagem estilizada do Beatle e do nome do local, você pode ler “Above us only the sky” (deixo aqui a imagem para vocês conferirem).


  1. sou só eu ou mais alguém aqui torcia por um ‘namoro’ entre o Cebolinha e a Mônica? O_o 

4 comentários em “Das coisas que moldam nosso caráter”

  1. Fábio Kabral – Fábio Kabral é escritor, autor dos romances “Ritos de Passagem” e “O Caçador Cibernético da Rua 13“. Escreve também em seus blogs e redes sociais. Ator formado pela Casa das Artes de Laranjeiras, estudou Letras na UFRJ e na USP. Um dos fundadores do site “O Lado Negro da Força“. Já trabalhou como ator, dublador, livreiro e analista de mídias sociais. Palestrante de temas relacionados a afrofuturismo, afrocentricidade, candomblé, literatura fantástica, cultura pop e criação literária. Iniciado no candomblé e filho de santo do terreiro “Ilê Oba Às̩e̩ Ogodo“.
    Kabral disse:

    …lendo seu post, passou-me a idéia de que seria “adequado” eu falar mais de mim mesmo no meu próprio blog.

  2. Isso é pessoal, Kabral – eu, por exemplo, decidi há uns 3 anos atrás a não fazer isso mais tão frequentemente quanto antes. Acho que a idéia principal é: põe aí o que dá na telha que o canto é teu :mrpurple:

  3. “Oh, crap, estou sensível hoje.”²

    Belo texto Anica, me remeteu ao tempo da minha infância, apesar de que não me recordo de gostar de brincar de barbie tanto assim…=P

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