A pergunta no Hotel Terra na verdade serve para abrir espaço para citar um blog de economia estrangeiro, que fez a mesma questão sobre os preços elevados dos livros por aqui. O Marginal Revolution tenta responder com quatro argumentos, embora para falar bem a verdade o primeiro já mata a charada: a maioria dos brasileiros não lê.
A explicação, segundo o blog, é essa: “Eu não estou dizendo que eles não sabem ler, estou dizendo que eles não lêem tanto por entretenimento. Fiquei preso no aeroporto de São Paulo por sete horas e não vi uma única lendo um livro, nem uma vez.
Levando isso em consideração, uma baixa demanda significa preços altos. É por isso que os paperbacks de Stephen King são baratos e os tomos de Edward Elgar (o nome de uma editora acadêmica) vão de 100 dólares para cima.”
Outros motivos citados pelo autor: O varejo brasileiro não é eficiente, não há outra fonte de abastecimento por perto e a língua portuguesa não produz um mercado extramente consistente e talvez a moeda brasileira esteja sendo supervalorizada no momento, pelo menos em termos de poder de compra.
Dexando de lado esses últimos três aspectos que eu realmente não tenho qualquer conhecimento de Economia para poder comentar, voltemos ao primeiro: baixa demanda significa preços altos. Há quem diga que entramos em um círculo vicioso: as pessoas não lêem porque os livros são caros, os livros são caros porque as pessoas não lêem e assim segue. Ou seja, se continuar assim, pagaremos absurdos por livros para sempre.
E aí as editoras dizem que é um problema cultural e que o governo (sempre o governo) tem que adotar medidas para fazer com que uma nova geração de leitores seja formada, de forma que daqui uns 10, 15 anos exista um cenário que permita que editoras façam grandes tiragens de obras literárias (e portanto, possam vendê-las a preços mais baixos). Por outro lado, a sociedade argumenta que fica difícil ter o hábito da leitura com livros custando tão caro.
Tomemos o lado da sociedade primeiro: pode parecer surpreendente, mas adquirir o hábito de leitura não significa ler aquela edição bacanuda da Odisséia de Homero, muito menos aquela tiragem especial de Grande Sertão: Veredas do Rosa. O hábito de leitura vem de pequeno, e por isso mesmo vem de porções pequenas – você não chega logo de cara oferecendo uma feijoada para um bebê, porque ele certamente passará mal, certo? O que você faz? Oferece uma papinha com feijões amassadinhos e com pouco tempero. Depois passa para um feijão com arroz e aí a criança está pronta para a feijoada.
O processo de aquisição do hábito de leitura é o mesmo (e estou tomando o meu caso como exemplo): antes mesmo de aprender a ler, eu já tinha contato com livros e principalmente gibis (e gibi da Turma da Mônica não custa caro, minha gente). Quando aprendi a ler, comecei com Ziraldo e outros escritores que embora escrevam literatura infanto-juvenil, não fazem uma leitura imbecil (tanto que você pode tirar páginas de Flicts e O Menino Maluquinho e citar como poesia pura).
É um processo lento, de fato. E em um momento no qual já ficou comum aos pais atribuirem todo o papel da educação para a escola, acredito que ninguém queira assumir a responsabilidade na formação de uma geração de leitores, fazendo com que a criança sempre tenha contato com histórias para se familiarizar a ponto de fazer disso parte constante da vida (não só a encheção de saco para as avaliações da escola).
O “governo”, nesse caso, pode auxiliar com projetos de incentivo à leitura e é claro, com bibliotecas, diversas bibliotecas. Porque se eu gosto de Oscar Wilde hoje em dia é por ter uma biblioteca lá perto do campinho, no Centenário, onde tive a oportunidade de emprestar um livro da série Reencontro e ler O Fantasma de Canterville pela primeira vez. SEM PAGAR NADA POR ISSO.
Eu não sei como funciona no resto do Brasil, mas aqui em Curitiba eu devo dizer que a Fundação Cultural tem feito seu papel. E por isso retorno ao ponto do resgate da responsabilidade da educação: os pais TAMBÉM educam. Não é só a escola (muito menos a TV). Então, se você quer um filho leitor, é fundamental que desde cedo você mostre para ele o quanto eles podem oferecer. E sim, você precisa ler também. Porque a criança é emuladora por natureza, e ela vai fazer o que os pais fazem: se os pais lerem, elas lerão.
E assim finalmente chegamos às editoras. É culpa das editoras o fato dos brasileiros não lerem? Não, não é. Elas podem ajudar? Sim, podem. Tempos atrás levantei a questão de porque aqui no Brasil não se vende revista no formato conhecido lá fora como Mass-Market Paperback. Ele é parecido com aquelas revistinhas Julia e Sabrina, conhecem? Papel bem furreca, capa mole, formato de bolso. Normalmente é vendido fora de livrarias, em supermercados, aeroportos e afins. E custam poucas, pouquíssimas doletas (até pela baixa qualidade do produto).
O formato funciona tão bem lá fora que em listas de mais vendidos há inclusive um espaço para o mass-market paperback (aqui ignoremos o fato de que recentemente Paulo Coelho andava na frente de Garcia Marquez, sim?). Eu já citei o exemplo aqui, mas citarei novamente para que compreendam a vantagem do formato: meu Anansi Boys é desse formato. Paguei menos da metade do preço que pagaria se comprasse o formato lançado aqui no Brasil (que chegou nas livrarias custando a bagatela de 50 reais). E no final das contas, o que importa se ele tem papel ruim? Eu li um livro que um monte de fã do Neil Gaiman (ainda) não leu porque aqui custava muito caro.
E eu, curiosa que sou, entrei em contato com diversas editoras perguntando sobre o formato aqui no Brasil. Porque não, os pockets lançados aqui não são a mesma coisa que o mass-market paperback (sobretudo os da Companhia das Letras, que são caprichadíssimos e portanto ainda caros). Mandei e-mail para Martins Fontes, Companhia das Letras, Ediouro e outras “grandes” editoras. Respostas? Nenhuma.
A única resposta veio do Ispaine, da editora curitibana Arte&Letra1. Lá no Meia Palavra ele contou sobre mais um dos absurdos do mercado literário brasileiro:
Sobre o papel jornal, é uma loucura o que acontece. Na verdade as gráficas não trabalham com esse papel (provavelmente a demanda não é suficiente e ninguém produz em quantidade) já tentei usá-lo mas não consegui. O papel reciclado é mais caro que o papel normal. Loucura.
Sim, loucura. E no final das contas, nessa situação que nasceu torta e que ninguém quer ir muito além dos remendos, quem literalmente paga a conta (o pato, o sapo e afins) somos nós, os leitores.
Em tempo: o Hotel Terra sugeriu a leitura desse artigo da SuperInteressante, Por que o livro é caro no Brasil. Ele é de 1995, portanto não sei se as porcentagens estão de acordo com a realidade atual, mas de qualquer forma é bacana ter alguma idéia de quanto “custa” o livro para uma editora. 40% para livrarias, heim?
Engraçado é que atualmente o papel reciclado deixou de ser mais caro que o normal. Lá na agência a gente só usa ele, inclusive, porque o diretor é sovina.
Por aqui as coisas continuam como o Ispaine comentou. Até aquela resma da Chamex acaba ficando uns 2, 3 reais mais caro que o normal. =/
Eu falei sobre esse assunto no meu blog uns anos atrás.
Na época eu quis comprar um volume com a obra completa do Wilde. A edição nacional custava R$ 160,00 e a importada R$ 45,00. Adivinha qual comprei? hehehe
Sobre os livros em mass paperback eles até existem. Mas infelizmente são poucos livros que são impressos nesse papel e também são livros pra poucos leitores.
Os livros em mass paperback que eu tenho:
Nietzsche – Humano, demasiado humano
Nietzsche – O Anticristo
Darwin – A origem das espécies (tomos I, II e III).
Esses que você está citando são daquela coleção que o livro é menor que o formato de bolso e tem capa preta? Não lembro agora da editora, mas lembro que eles lançaram alguns títulos bacanas. E tem a Newton ou algo que o valha, uma das edições de Cândido do Voltaire que tenho em casa é tipo mass-market paperback (a única diferença é que não tem formato de bolso), e chegou nas bancas por 1,99. O valor do livro já explica pq acho que o formato seria interessante para o barateamento das publicações.
Não, esses meus são maiores que pockets e um pouco menores que os normais. São mais ou menos do mesmo tamanho que as revistas antigas de super herói (formatinho).
A editora é a Escala.
Eu tenho uma coleção enorme de livros em formato mass market paperback (inclusive os do Neil Gaiman), e apesar de supostamente serem de baixa qualidade, pelo menos os meus duram muito. Alguns foram do meu avô, comprados na década de 70, quando ele morava no exterior. Apesar das páginas amareladas, estão em perfeito estado. Não posso dizer o mesmo de alguns livros da Rocco e Martins Fontes. Ainda no início da primeira leitura, A História Sem Fim e Cantiga de Ninar estavam soltando as páginas na minha mão. Ou seja, o alto preço dos livros aqui no Brasil muitas vezes não justifica nem a qualidade do produto. :sigh:
Poisé, Ines, no final das contas a diferença nem é tão grande assim: pelo menos os meus estão tão ok quanto os de papel de ‘qualidade’. E eu estava pensando aqui, esse papel tem mais uma vantagem com relação ao branco que normalmente usam para os livros: é mais agradável de ler, especialmente em lugares mais claros.
Oi, Anica. Concordo contigo, o primeiro ponto no post do Marginal Revolution é o que mais faz sentido (como resposta de por que os livros são caros). Tomando isso como fato, a discussão de por que os brasileiros não lêem (baixa demanda) é bem mais complicada. São vários fatores, claro, mas acho que a questão cultural (falta de educação) tem um papel muito maior do que a econômica (preço alto).
Coloquei um link lá no post pra cá. Abraço!
Acredito que os livros são caros no Brasil porque são vendidos para quem pode pagar caro para comprar. Por isso as editoras fazem “edições de luxo”, para justificar o preço. Na Europa e nos E.U.A., as pessoas lêem quando vão ao trabalho, no trem ou no metrô, por isso precisam de uma edição mais simples e barata, mas que também seja durável. No Brasil, a leitura não é um hábito popular (basta pensar também na tiragem dos nossos jornais). Ler ainda é um hábito elitista e quem pode comprar um livro, vai lê-lo em casa, porque vai ao trabalho dirigindo seu carro.
Irmã, vou olha só…
Aquela coisa de 40% para as livrarias é balela.
Se você quer o livro nas grandes redes [Fnac, Saraiva…] o menor desconto que pode dar para a livraria é de 50% do valor de capa. Já se quiser um “destaque especial” arrisca ter que dar 60% do valor de capa.
Eu separaria os dados da SUPER aproximadamente assim: 50% livraria, 10% autor e 40% editora [funcionamento, revisão, diagramação, papel, impressão, distribuição, lucro e o que mais rolar, inclusive o risco da edição que pode ficar encalhada.]
E é isso…
bj
Pois é, eu que sou um leitor assíduo, descobri a maravilha da importação TAX FREE de livros. Sempre que descubro algo interessante, entro lá no Better World (www.betterworld.com) e procuro, normalmente eles tem edições de bibliotecas, usados domésticos e até novos mais baratos que na Amazon. E o melhor é que o frete deles é 3US$ pra mandar pra cá. Demora um pouco, mas sempre chega. Já estou lotando minha estante de 2m de altura com livros de lá. Recomendo.
Até!
Eu sou da opinião que a mídia poderia mudar o Brasil, como muitas vezes já mudou… além de que o governo investisse numa educação de verdade…
mas enquanto isso não acontece eu compro livros do http://www.abebooks.com
É tipo um http://www.estatantevirtual.com.br só que dos estados unidos. Vale a pena!
Acredito que maioria dos brasileiros não têm o hábito da leitura por os preços dos livros serem exorbitantes,mas sim por que principalmente nas escolas públicas não há o envolvimento adequado em relação a literatura.Consequentemente se tornam individuos com um baixo nível cultural.
Em São Paulo temos DIVERSAS bibliotecas espalhadas pela capital, inclusive temos o Sistema Municipal de Bibliotecas, e com um único cadastro é possível empresar livros de várias bibliotecas da rede gratuitamente. Mas, pelo jeito, as pessoas continuam indo na biblioteca APENAS para fazer aquele trabalho chato que o professor chato pediu e que vale nota… =/
Eu também não acho que a falta do hábito da leitura seja por causa doa altos preços, quem quer sempre consegue um livro, haja vista as bibliotecas gratuitas espalhadas por São Paulo e pelo Brasil…
Quem lê nesse país é uma fração muito pequena da população, talvez 3% ou 4%. Então fica difícil fazer uma produção em larga escala. Agora, as edições brasileiras são uma vergonha, totalmente voltadas para um público endinheirado.
Leio Inglês e percebo que até nossas traduções são uma vergonha. Excetuando poucas, como é o caso de Minas de Salomão, traduzida por Eça de Queirós – um brilho, alcançado por poucos, inclusive ficando melhor que o original.