Para quem não sabe, nesta época Guimarães Rosa era cônsul-adjunto em Hamburgo. Foi mais ou menos isso que o meteu numa roubada de presenciar uma guerra, mas que por outro lado lhe rendeu uma segunda esposa. De qualquer forma, antes que me prolongue: corre para a banca e compre a Bravo. Não só pelos trechos do diário, mas pelo perfil do escritor, é aquele tipo de revista para ter guardada em casa.
Vale muito a pena guardar, porque é a prova de que não só de Ayrton Senna e Pelé são feitos os heróis brasileiros. Aliás, tenho cá a teoria de que só cultivamos o hábito de idolatrar esportistas porque nesse caso a diferença entre o vencedor e o perdedor é bastante clara. No cinza do mundo “real”, às vezes fica difícil distinguir quem é herói, quem é oportunista, quem deu sorte, etc.
E eu não quero entrar na discussão “pobre do país que precisa de heróis”, porque se heróis não fossem necessários, a literatura não teria criado e registrado tantos. Heróis são exemplos. Assim como tem aquela peça na França que mostra quanto é um metro, um herói mostra quanto é ser bom, em todos os sentidos aplicáveis ao adjetivo.
E Rosa era bom. Era fenomenalmente bom. Ele não arrancava com a bola de futebol do meio do campo até fazer um daqueles gols que deixariam qualquer goleiro num misto de constrangimento e estupefação. E não falo do escritor. Do escritor, eu nunca tive dúvidas que tratava-se de um dos melhores do mundo. Vou demorar parar encontrar alguém que brincasse com as palavras tão seriamente quanto ele, disso tenho certeza.
A questão é o homem. É esse que serve de modelo, é esse o herói brasileiro que tanta gente desconhece porque ou não caminhou pelos bosques da literatura, ou porque, como disse anteriormente, não é fácil distinguir o vencedor e o perdedor do jogo da vida. Trechos do perfil escrito por Mariana Delfini para que compreendam o que digo:
A história de sua aprovação no Itamaraty é lendária. Classificado em segundo lugar, por conta das restrições literárias que fizera a Rui Barbosa na prova de português, surpreendeu os examinadores na argüição oral. “O que o senhor conhece de literatura francesa?”, perguntaram-lhe. “Toda”, respondeu. “Desde quando o senhor lê francês?” Nova resposta: “Os clássicos comecei a ler aos 9 anos.
Vale atentar ao fato de que, segundo o perfil da Bravo!, nesta época ele já dominava mais de 20 idiomas. Mas se você acha que a inteligência não é o que destaca um sujeito dos demais humanos, o que tem a dizer daquele que sabe ser humano em um momento desumano? Sim, isso mesmo. Durante a Grande Guerra, Rosa ajudou diversos judeus a escaparem, inclusive sendo fichado por lá.
“Certamente não é um dos nossos”, consta no arquivo da polícia alemã encontrado por Adriana Jacobsen e Soraia Vilela.
Eu não acho que viver a mais de 300 km/h não tenha seu valor. Também não acho que todos os meus heróis morreram de overdose. Só acho que talvez estejamos procurando nossos heróis no lugar errado.
Para minha vergonha conheço pouca coisa do Guimarães Rosa, li apenas “Grande Sertão: Veredas” e “Sagarana”, mas morro de vontade de ler “Primeras Estórias” e “Noites do Sertão”. Vamos ver como fica esse ano…
WOW foda!
Óbvio que amanhã, serei aquele amigo nerd e anti-social que fica lendo revista enquanto os outros conversam.
E ai de quem interromper minha leitura!
“Apenas” é modo de dizer, né? Porque eu conheço um punhado de gente que começou Grande Sertão e largou antes da metade, como se fosse o Ulisses brasileiro.
Edit: Ei, Marco, colocamos a mensagem ao mesmo tempo heim? Ó, já deixei separadinha no braço do sofá para você ler =D
Anica, para o homem é a mesma coisa, ou quase