O divertido da história é que ela é contada sob o ponto de vista dos quatro, em primeira pessoa. Assim, as características de cada um ficam claras no discurso, como por exemplo a Jess, que fala sem parar e utiliza um palavrão a cada quatro palavras, ou Maureen, que é toda recatada (na verdade um oposto perfeito da Jess). E como a história é contada por cada um deles, de certa forma você vai conhecendo as personagens junto com os demais.
Assim, é quase como fazer novos amigos. E aqui, é claro, a história é recheada daquele humor típico do Hornby, que faz total diferença em um livro que tinha tudo para ser o mais deprê de todos os tempos (afinal, não vamos esquecer que as personagens-narradoras são todas suicidas, certo?). Só para variar, há alguns momentos que simplesmente não tem como segurar o riso, lembrando muito o dia do pato de Um Grande Garoto.
É verdade que na terceira parte o livro perde um pouco o pique, mas é bem legal perceber como Hornby nos conduz de um evento para outro como se estivéssemos em uma montanha russa. É aquele tipo de história que nos faz lembrar que, acima de tudo, ler tem que ser um prazer.
Segue um trechinho:
“(…) – E se a gente tivesse visto alguma coisa?
– Tipo o quê? O que deveríamos ter visto?
– Que tal se a gente tivesse visto um anjo?
– Um anjo – disse JJ sem acreditar.
– É.
– Eu não vi anjo nenhum – disse Maureen. – Quando você viu um anjo?
– Ninguém viu anjo nenhum – expliquei. – Jess está propondo que inventemos uma experiência espiritual para ganharmos dinheiro.
– Que horror – disse Maureen, pelo menos porque era claramente previsível que ela reagisse dessa forma.
– Não é exatamente uma invenção, é? – disse Jess.
– Não? Em que sentido de fato vimos um anjo?
– Como se chama isso em poesia?
– O que foi que disse?
– Você sabe, nos poemas. E na literatura inglesa. Às vezes se diz que alguma coisa é igual a alguma coisa e às vezes se diz que alguma coisa é alguma coisa. Você sabe, meu amor é como a porra de uma rosa ou, outra coisa qualquer.
– Símiles e metáforas.
– É. Exatamente. Foi Shakespeare que inventou esse bagulho, não foi? Por isso ele era um gênio.
– Não.
– Então quem foi?
– Deixa para lá.
– Por que Shakespeare foi um gênio? O que ele fez?
– Outra hora falamos sobre isso.”
Sabe, eu resolvi dar uma nova chance ao Hornby e li o Febre de Bola, pois é um livro sobre um assunto que eu adoro. Resultado: confirmado, Gugu é melhor que Nick Hornby.
vc que não está no momento certo para ele então =P
Só digo uma coisa: eu seria menos eu se nunca tivesse lido o Nick Hornby.