Porque livros serão sempre melhores que filmes

Ontem a Débora perguntou onde poderia alugar o filme Lavoura Arcaica, e acabei comentando sobre o livro do Raduan Nassar (que em algum momento do curso de Letras eu deveria ter lido e não li, não que eu me orgulhe disso). Aí ficou a velha indagação no ar: se você não conhece nem o filme, nem o livro, qual deve conferir antes?

Quase todo mundo que conheço (salvo aqueles que sofrem de preguicite aguda) acabam respondendo “O livro, é claro!”. E eu poderia explicar a razão disso citando a Iser, Sartre, Jauss, Candido, Eco e todo mundo que já discutiu em algum momento como funciona a relação obra-leitor, mas prefiro ilustrar com um exemplo que veio em mente ontem.

Quando tinha lá meus dez, onze anos de idade ganhei da minha mãe o livro O Terror, do Edgar Wallace (livro muito legal, diga-se de passagem, mas aparentemente só dá para encontrá-lo em sebos e bibliotecas hoje em dia). Bom, eis que começo a leitura e lá pelas tantas é apresentado Ferdie Fane, que usava óculos de tartaruga e perturbava a mocinha do romance, Mary Redmayne.

A questão é: não importava o quanto Wallace usava adjetivos como “atraente”, “jovem”, e afins, eu achava que tratava-se de um tiozão chato que não largava do pé da Mary. “E onde entra a magia da leitura, Ana?” Bom, essa já é parte da magia. O Ferdie Fane que li existe só na minha cabeça. Ele será outro cara para você, e certamente era outro para o Wallace.

Mas bacana, legal mesmo, é quando descobri que ele era um [SPOILER: Selecione o texto para ler]detetive da Scotland Yard[FIM DO SPOILER]. E de repente de chato ele passa a mega-herói-perfeitão-apaixonante. Aí está o ponto alto da magia do livro. Em um filme, se colocassem um Brad Pitt com óculos de tartaruga, ainda assim seria Brad Pitt e você pensaria “Ok, uma hora essa tosca dá mole para ele“. A imagem está pronta. No livro, o trabalho é todo seu.

Poucas coisas dão maior sensação de liberdade do que um livro.