E tão logo ocorre a tragédia, somos bombardeados por histórias das pessoas que estavam lá, e também ficamos sabendo de amigos dos amigos dos amigos que estavam lá. E eu não vou dizer que não choca (ou que não me deixa triste), mas acho que só me dei conta do horror quando acessei o Fórum Valinor e li uma mensagem de um colega nosso, conhecido como “Shazan”.
O pai do Shazan faleceu nesta madrugada. Era um dos funcionários da TAM que estavam no prédio, ele tentou ajudar algumas pessoas e infelizmente passou tempo demais exposto ao fogo. Ler ali, o que ele contou, foi quase como um tapa. Mas o pior foi quando estava lendo as notícias do dia e bato de cara com uma noticiando o falecimento. Diziam que ele tinha sido um herói? Que chorou quando já nem tinha mais reflexos? Não. Falaram que “aumentou o número de mortos”.
Isso é cruel. Eu sei que é dever da mídia nos informar, mas há um “como informar” por trás disso. Do jeito que estão fazendo, lembram as pessoas do conto do Trevisan “Uma Vela para Dario” – metaforica e literalmente falando. Eles vão lá, tiram o necessário para a reportagem (que servirá para a catarse alheia, não vamos jogar a culpa apenas nos ombros deles!) e é isso.
É frio assim, porque a dor não é nossa, não conhecemos aquelas pessoas e não perdemos ninguém. Na realidade, é quase como se acompanhássemos personagens de um filme. Aí nós dizemos que sentimos muito – e sentimos, não duvido. Mas falta ver que essas pessoas são reais, porque se sentíssemos muito, mas sentíssemos muito MESMO, já teríamos feito algo para acabar com essa palhaçada que está acontecendo.
Não adianta só os familiares se revoltarem, se adiantasse, já teríamos respostas do acidente da Gol e este da TAM talvez nem tivesse ocorrido. O que precisa mesmo é levarmos em conta que não são só números, eram pessoas. E que se não começarmos a nos mexer, um dia poderemos ser nós mesmos aumentando as estatísticas dos jornais.
Para o Rafael e todos os outros Rafaéis desta tragédia, toda a força do mundo nessa hora.
No começo da faculdade, uma colega de classe minha faleceu. Foi assassinada de uma maneira horrível (estrupo e depois morte a tijoladas). Lembro que durante o velório uma equipe de reportagem foi entrevistar a mãe da menina que morreu. Quando ela começou a chorar, praticamente enfiaram a câmera na cara dela. O reporter saiu meio de lado e deu uma risadinha de canto de boca, com uma cara de “missão cumprida”.
Senti nojo de todos os jornalistas do mundo naquela hora.
Eu fiquei arrasado ontem quando li o que ele postou, e mais ainda quando vi a entrevista dele no jornal, ele tão abalado daquele jeito.
Eu acho que nestas horas é que conhecemos o que há de mais belo e horroso no ser humano. Há aqueles que se condoecem de verdade pelos que velam a vida de uma pessoa amada, assim como existem os oportunistas de plantão, como o Lucaz mesmo disse, que ainda acham graça do mal que ocorre aos outros. É nestas horas que penso na justiça divina, que não deixa ninguém ficar impune – porque se for pra esperar pela humana… pff… dá pra se esperar deitado!