Aí, quando peguei a coleção de contos que serão trabalhados para dar uma olhada, vi um tal de O Ferreiro da Catarata, de um Húngaro chamado Mikszáth Kálmán – e sabe, é tão engraçado, mas o conto ilustra bem o caminho que estou tomando agora.
Infelizmente não encontrei o texto na internet para deixar o link para vocês, então farei um resumão básico: havia um ferreiro que, apesar da profissão, tinha mãos levíssimas, e operava os casos mais complicados de catarata na região onde morava.
Eis que um oftalmologista contou para alguns colegas de profissão sobre o ferreiro, que assim como ele simplesmente não acreditavam que um leigo – ainda mais um ferreiro – pudesse operar catarata. Assim, eles combinam de arrumar um caso bem complicado e chamar o tal do ferreiro para cuidar disso, de modo tal que eles poderiam saber se era verdade ou não.
Chega o grande dia e, sem frescuras, o ferreiro pega um canivete (para horror dos médicos) e consegue operar um dos olhos do paciente em questão, o olho que estava mais comprometido. Quando estava prestes a operar o outro olho, o mais fácil, um dos médicos não agüentou e começou a explicar sobre o risco que o ferreiro corria de cegar o paciente.
Mostrou toda a estrutura do olho humano, explicou como é frágil, o que uma operação feita de forma errada pode causar. E depois disso, finalmente permite que o ferreiro cuide do olho do paciente. As mãos antes firmes começam a tremer, e o homem começa a suar. Apavorado com a idéia de danificar aquele órgão tão complexo que recém havia descoberto, larga o canivete e diz que não pode operá-lo mais.
E aí fica a questão: será que esse monte de estudos sobre Literatura eu não tenha ficado receosa demais para escrever? Porque, coincidência ou não, desde que comecei a estudar mais profundamente, eu simplesmente não criei mais.
Enfim, se tiverem a oportunidade leiam o conto. Esse está em um livro chamado Antologia do Conto Húngaro.
Uma vez perguntaram para a centopéia:
– Como é que você faz para dançar tão bem? Coloca a vigésima segunda perna para a esquerda antes ou depois da décima sétima para a direita?
Tadinha. Nunca mais consegui dançar.
Fonte dessa ilustrantíssima fábula: “O mundo de Sofia”, Jostein Gaarder, se não me engano, explicando sobre o processo psíquico da racionalização.
Boa história tb. Aliás, acho que preciso reler O Mundo de Sofia (sério). A primeira vez foi há mais de 10 anos atrás 😮
Eu nunca li o Mundo de Sofia. Acho filosofia muito… cansativa. 🙄
É justamente aí a parte cool do livro. Ele torna filosofia algo bem interessante até para quem não curte o assunto =]
Permita-me meter o bedelho de novo. É que hoje, durante o dia, me peguei refletindo sobre o que você escreveu e me ocorreu uma coisa.
Para mim existem dois tipos de escritores. Os do tipo “Hemingway”, que só sabem escrever e nada mais, atormentados, para quem escrever é algo que precisa ser posto para fora senão a sua já precária sanidade mental vai para o saco. Eles escrevem coisas que mexem com o íntimo do leitor e continuarão sendo lidos daqui a cem ou duzentos anos. O outro tipo é o que eu costumo apelidar de escritor “Paulo Coelho”, para quem escrever é apenas uma profissão ou forma de ganhar dinheiro, sei lá, não precisa nem mesmo se preocupar muito em escrever bem, mas apenas ser de fácil leitura.
Pelo que acompanho da leitura do seu blog, tenho a mais absoluta certeza de que do tipo “Paulo Coelho” não apenas você tem capacidade, mas certamente você já é, a não ser pelo detalhe da falta de grana que você sempre cita (tadinha, não conseguiu nem ir ver o show do Chico em Curitiba). Agora, se a sua ambição é ser uma escritora do tipo “Hemingway”, sinceramente, essa Anica eu acho que eu não conheço, embora isso não queira dizer que ela não exista.
Perdoe esta humilde besta humana caso tenha escrito qualquer besteira indevida ou exagerado nas brincadeiras. A idéia desse comentário é apenas acrescentar algo para você refletir.
JØ4Ø Dismnésico Disataráxico da Silva
P.S: Se assim o desejar, apague este comentário sem dó nem piedade e esqueça-o.
Não tem razão para apagar, até porque fiquei lisonjeada, especialmente se levar que em consideração que nunca tentei fazer deste blog um exercício literário. :hanhan:
Nada como os teóricos pra impor barreiras ao que pode fluir bem e naturalmente.
Ser comparada ao Paulo Coelho é elogio?
Na verdade a partir do momento que li Paulo Coelho comecei a ler “blablablabla não precisa nem mesmo se preocupar muito em escrever bem blablabla” :dente:
Já li o ferreiero e a catarata… Tenhos antologia dos contos Húngaros… Fantástico. Se quiser um conselho, leia story de Robert Mckee… Vai te ajudar a produzir…. Pois o mundo PRECISA de melhores contafodres de “estórias”