A história gira em torno de Harold Crick, um auditor da Receita Federal que em uma manhã percebe que sua vida está sendo narrada por uma mulher. Todos os atos e pensamentos são detalhados “de forma precisa… e com vocabulário melhor“, como Harold descreverá depois. A questão é que no meio de uma das narrativas ele escuta que morrerá em breve.
Harold conta com a ajuda do Professor de literatura Jules Hilbert, para descobrir quem é a narradora e como evitar o final que está se aproximando. É nesses momentos com Jules que a conversa entre cinema e literatura melhor funciona, e Mais Estranho que Ficção encanta.
Para começar, a idéia de Comédia e Tragédia – que Harold tenta descobrir qual está vivendo, levando a uma fala irônica para a confeiteira Ana Pascal, por quem ele se apaixona: “Você pode achar que isso é bobagem, mas acho que estou em uma tragédia“, ou quando Hilbert sugere que ele fique em casa sem fazer absolutamente nada, para que “o plot o encontre“.
É uma tentativa de descobrir se ele tem controle ou não sobre sua vida, ou se os eventos estão pré-determinados. Lembrou muito, até por causa desse diálogo com uma história na qual a morte era o destino da personagem, o ótimo Rosencrantz e Guildenstern estão Mortos (do qual já falei por aqui).
E se a morte é inevitável, qual a atitude mais sensata a se tomar? Viver. Viver muito, e viver bem. É aí que ocorre uma transformação de Harold, que passa da pessoa apagada, sem muito o que realizar, para a pessoa cativante. E o que isso significa? Que a partir desse momento você começa a torcer para que a autora não faça o que pretende fazer (e eu é que não vou dizer aqui o que é que ela decide fazer).
Enfim, é um filme muito bom. Falando sobre a importância das pequenas coisas da vida, é como aparece no diálogo entre o professor e Harold:
Dr. Jules Hilbert: Hell Harold, you could just eat nothing but pancakes if you wanted.
Harold Crick: What is wrong with you? Hey, I don’t want to eat nothing but pancakes, I want to live! I mean, who in their right mind in a choice between pancakes and living chooses pancakes?
Dr. Jules Hilbert: Harold, if you pause to think, you’d realize that that answer is inextricably contingent upon the type of life being led… and, of course, the quality of the pancakes.
Vale a pena ver, sim. E vale também a pena levar em consideração que, apesar de ter Will Ferrel como protagonista, o filme não é exatamente uma comédia. Lembra, em muito, os filmes de Charlie Kaufman, como Adaptação e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Até porque não trata o espectador como um imbecil ao ponto de explicar porque diabos a vida de Harold estava sendo narrada, focando principalmente nas conseqüências disso.
pelo que vc disse, achei inteligente e bem elaborada a história do filme…
apesar do tema “voce-vai-morrer-entao-viva-bem-enquanto-nao-morre” ser meio batido, a abordagem usada para mostrar isso foi bem inovadora.
bjs.MagoHellblazer
pelo que vc disse, achei inteligente e bem elaborada a história do filme…
apesar do tema “voce-vai-morrer-entao-viva-bem-enquanto-nao-morre” ser meio batido, a abordagem usada para mostrar isso foi bem inovadora.
Eu achei espetacular o Stranger than fiction. Um dos filmes mais inteligentes dos últimos meses.
Eu adorei a auto-crítica que o filme faz, especialmente no final.
[SPOILER ZONE!]
Aquela hora em que o Jules e a autora estão falando sobre o livro. Enquanto no plot está decidido que o Harold vai morrer, o Jules fala que é a melhor história americana. Depois que a autora muda de idéia (o que eu a princípio achei baba hollywoodiana, pra depois ficar embasbacado com a lógica interna do filme) ele fala que está somente bom.
To louco pra ver e ainda não entrou em cartaz por aqui.
Ema Tompson FANTÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁSTICA… Você não achou?