Palavras, palavras, palavras…

livroNesse último semestre cursei uma disciplina de Tradução e, eu que odiava traduzir, acabei tomando gosto pela coisa. Nós traduzimos textos de autores irlandeses (algum dos quais eu nunca tinha ouvido falar, devo dizer), e nessa tarefa sempre levantamos os problemas da tradução (relativa às escolhas, falta de background para entender um termo utilizado, etc.). Sim, é algo bacana – tão bacana que estou pensando em tirar diploma em tradução também (o que envolveria mais uma monografia além das outras duas que estou fazendo hehe).

Deixando o blablabla de lado, hoje cedo estava dando uma olhada básica no “A Megera Domada” do Shakespeare, com tradução do Millôr Fernandes. A obra já começa com um breve texto sobre ser tradutor que achei bem bacana, mas o mais legal ainda é ver, através das notas do tradutor, a preocupação do Millôr com o texto, como por exemplo em um momento que ele diz:

Em geral as traduções esbarram nos trocadilhos e passam por cima com uma nota (ou nem isso): “Expressão intraduzível”, e o Bardo dá mais uma volta em seu túmulo. Não há expressões intraduzíveis, sobretudo em criações dramáticas e poéticas, que permitem uma ampla variação de escolhas.

Essa tradução é de 1994, período em que a crítica à tradução ainda não era forte como podemos perceber de uns tempos para cá. Sim, o leitor de obras estrangeiras mudou . Não é mais questão de ter uma idéia do conteúdo, a pessoa que compra um livro de autor estrangeiro quer, se possível, uma tradução boa que respeite não só “o que foi escrito”, mas “como foi escrito”.

Tenho dois exemplos diferentes para ilustrar isso. O primeiro, foi de uma conversa que tive com o Fábio dia desses. Ele está relendo os livros que tem do Lovecraft, todos traduzidos, e chegou a conclusão que a tradução aqui no Brasil é horrível: a escolha de certas palavras simplesmente não colabora com a criação da atmosfera de terror, que é a intenção do autor (óbvio).

Além disso, tem o caso do lançamento das Cartas de J.R.R. Tolkien, cuja tradução ficou por conta do Gabriel (que conheço lá da Valinor). Durante o processo de tradução até o momento da publicação a maior preocupação do público que estava interessado em comprar a obra foi justamente com a tradução (especialmente porque o fandom tolkieniano está meio escaldado com aquela história dos trechos que faltaram na edição de O Senhor dos Anéis da Martins Fontes).

Resumindo, o bom de observar nessa mudança de postura do leitor, que agora cobra pela qualidade da tradução, é acima de tudo o fato de que trata-se de uma geração de leitores críticos que não estão só engolindo uma obra por ser “clássica” ou “famosa”. Com um público exigente, as editoras não podem continuar fazendo de conta que agora damos graças aos céus por termos disponível uma versão em português. Queremos mais, e melhor.

2 comentários em “Palavras, palavras, palavras…”

  1. Anica, sera que o publico ficou mais exigente, ou passou a ler os livros em seus moldes originais, percebendo assim uma incoerencia das traducoes, uma falta de revisao das mesmas ou adaptacao de alguns termos que acabam por deixar de lado algumas piadas?..

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