A primeira, e a que mais chamou minha atenção, foi Flush: Uma Biografia. É considerado um dos trabalhos mais ‘leves’ de Virginia, e ela de fato escreveu para ‘passar o tempo’ depois de criar obras mais complexas. Mas saca só a idéia: é a biografia de Elizabeth Barret Browning sob o olhar de Flush, seu cocker spaniel de estimação.
Mas o que realmente gostei – e inclusive acabei pegando para ler com calma, é “Um Teto Todo Seu” , que é na verdade um ensaio escrito a partir de uma palestra que ela deu em Newnham, na qual pretendia responder por que há poucas mulheres escritoras, bem como a possibilidade de surgirem escritoras tão geniais quanto um Shakespeare.
Aliás, é nesse ensaio que aparece a história da irmã de Shakespeare da qual já comentei aqui no Hellfire tempos atrás. Para quem não lembra: ela criou a personagem ‘Judith’, que seria a irmã de Shakespeare. Genial como ele, teve as mesmas oportunidades mas não teve a mesma sorte: morreu em Londres porque ninguém queria contratar o serviço de uma mulher ‘sozinha’, a não ser que fosse como prostituta, e assim nenhum trabalho de Judith foi publicado ou conhecido.
A Judith foi criada como ilustração dessa discussão sobre a condição da mulher como escritora, mas algumas pessoas acabaram tomando a moça como um ‘fato real’, hehe. I wonder why. Enfim, a conclusão de Woolf sobre a condição da mulher como escritora (pelo menos em 1928, não que tenha mudado muito):
Minha crença é que a poetisa que nunca escreveu uma palavra e que foi enterrada numa encruzilhada ainda vive. Ela vive em vocês e em mim, e em muitas outras mulheres que não estão aqui esta noite, porque estão lavando a louça e pondo os filhos para dormir. Mas ela vive; pois os grandes poetas nunca morrem, são presenças contínuas, precisam apenas da oportunidade de andarem entre nós em carne e osso. Essa oportunidade, segundo penso, começa agora a ficar a seu alcance conferir-lhe. Pois minha crença é que, se vivermos aproximadamente mais um século – e estou falando na vida comum que é a vida real, e não nas vidinhas à parte que vivemos individualmente – e tivermos, cada uma, quinhentas libras por ano e o próprio quarto; se tivermos o hábito da liberdade e a coragem de escrever exatamente o que pensamos; se fugirmos um pouco da sala de estar comum e virmos os seres humanos nem sempre em sua relação uns com os outros, mas em relação à realidade, e também o céu e as árvores ou o que quer que seja, como são; se olharmos mais além do espectro de Milton, pois nenhum ser humani deve tapar o horizonte; se encararmos o fato, pois é um fato, de que não há nenhum braço em que nos apoiarmos, mas que seguimos sozinhas e que nossa relação é para com o munda da realidade e não apenas para com o mundo dos homens e das mulheres, então chegará a oportunidade, e o poeta morto que foi a irmã de Shakespeare assumirá o corpo que com tanta freqüência deitou por terra.
Esse livro tem traduzido no Brasil e é fácil de encontrar em qualquer biblioteca. Aos meninos, não joguem fora a oportunidade de ler por um preconceito tapado de ‘bah, é coisa de feminista’. Virginia Woolf é brilhante, e não precisa de nenhum ‘ismo’ para sustentar suas idéias, acreditem.
Não sei como conseguiram deixar a bela, a maravilhosa, a ruivíssima Nicole Kidman tão feia quato a Sra. Woolf. Whatever… isso não importa, o que imporrta é Anansi Boys ser muito foda o/
Gee, todo mundo já leu anansi boys menos eu? :disgust: