Isso não é um primeiro ano

uniPrimeiro semestre de curso, embora já esteja quase no fim. Professor termina aula na qual passara literalmente duas horas discutindo um quadro do Magritte, fazendo uma analogia à Literatura. Então, desconsiderando os alunos babando no fundo da sala, os de olhares atônitos, os que ainda tentavam anotar tudo o que ele dizia (para traduzir depois…) ele lança um:

– Como avaliação do bimestre eu quero que vocês façam para mim um ensaio sobre um romance qualquer.

Se queixo caísse de verdade, o som naquela sala de aula seria assustador naquele momento. Alunos ainda não muito íntimos trocam olhares onde podia-se ler: QUE PORRA ELE QUER DIZER COM ISSO?!

Uma semana passa, e um grupo reúne-se no gabinete do professor. A aluna mais inteligente e mais simpática (e menos tímida) chega e pergunta: Professor, todos nós ficamos com uma dúvida sobre o que você disse naquela aula…o que você quer dizer com fazer um ensaio?

Sim, isso de fato aconteceu. Em um curso de Letras, o que é pior. E antes que atirem as primeiras pedras, vamos lembrar que essa turma que se formou no ano passado foi provavelmente a última da geração “pré-Google“, que na internet encontra solução para tudo. São aquelas pessoas que ainda entregaram trabalhos em folhas de papel almaço, copiando verbetes da Barsa e dependem do irmão mais velho para definições de palavras como ‘resenha’.
Essa turma da geração “pré-Google“, mais especificamente esse incidente da aula de Teoria da Literatura, só comprovam minha teoria de que a maior parte das pessoas não está preparada quando entra na faculdade. A turma do primeiro semestre é uma pivetada de 18 anos incompletos, que na maioria das vezes falham até em responder por que diabos escolheram tal curso.

Isso porque há uma espécie de hiato entre o fim do terceirão e o início da vida acadêmica. Essa virada dos 17 para os 18 pode numericamente não significar grandes coisas, mas é um momento que faz diferença no que diz respeito à maturidade. Ou vai dizer que não é um tanto estranho pensar que a maior parte dos calouros que formarão a elite intelectual (cofcof) até um ano atrás ficavam em sala de aula combinando como fazer “o professor do cursinho pular”?

Esse ano de transição poderia ser melhor aproveitado: não com cursinho e toda a babaquice por trás disso (porque é fato que a garotada se acostuma mal e é um banho de água fria sequer saber onde fica a sala de Lingüística I). Mas com algo que faça com que o calouro não se desespere com palavras como ‘ensaio’, ‘norma da abnt’ e afins. Não sei, algo que servisse de ponte entre o ‘colégio’ e a ‘universidade’.

Para mim um ano de PUC serviu bem :dente:

5 comentários em “Isso não é um primeiro ano”

  1. As pessoas são mentalmente mal preparadas para cursos que as prepararão mal para situações que não são tolerantes com a lerdeza de nossos tempos. Eu acho que a saturação de informática não vai formar estudantes melhores que os pré-hitóricos pré-Google, simplesmente porque o segundo grupo, apesar de não aprender a pensar, tinha de se esforçar pra alcançar resultados mínimosao passo que o segundo o consegue com o click de um mouse.

  2. anapeterka – Esposa, filha, irmã, amiga. Apaixonada por cozinhas, viagens, cachorros, cinema, música e tantas outras coisas.
    Nana disse:

    A puc é mesmo uma boa transição entre a vida de cursinho e a vida real… hehehehe
    Lembra da primeira aula com o Pedro Bernardi: “levantem-se e digam pq escolheram este curso” “vamos escrever um livro no final do ano!!” hahahahaha
    A melhor parte, SEMPRE, são as lembranças… pq essa vida adulta é só pancadaria!
    😆

  3. Mas acho que esse “espaço” entre o 3º ano e a faculdade é muito complicado para se preencher. A única maneira de encurtar isso seria por parte do próprio aluno, que tem que correr atrás e ver o que a faculdade / universidade tem a oferecer.

    E a diferença no modo de ensino de um colégio / cursinho pra faculdade / universidade sempre foi um tchans a mais pra mim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.