Eu nunca escondi e conheço várias pessoas (inclusive alguns professores de Literatura) que classificam o senhor Alencar como “chato”. Para não usar outros adjetivos pouco lisonjeiros, claro. E eis que no livro do Schwarz me deparo com o óbvio sobre qual é o problema do Alencar.
Isso posto, é preciso reconhecer que a sua obra nunca é propriamente bem-sucedida, e que tem sempre um quê descalibrado e, bem pesada a palavra, de bobagem. É interessante notar contudo que esses pontos fracos são, justamente, fortes noutra perspectiva. Não são acidentais nem fruto da falta de talento, são pelo contrário prova da conseqüência. Assinalam os lugares em que o molde europeu, combinando-se à matéria local, de que Alencar foi simpatizante ardoroso, produzia contra-senso.
Ou seja: não funciona, porque é como recortar toscamente o seu rosto e colar sobre a foto da Elizabeth Hurley ou do Alan Rickman. O mais interessante é: se a coisa é tão óbvia, porque essa tradição de copiar modelos da Europa foi mantida por tanto tempo? E, principalmente, por que em alguns casos como o Machado, a coisa funciona?
Por falar em Machado, fofoca literária: reza a lenda que o filho do Alencar na verdade era filho do Machado, e que foi a esposa gringa do Alencar que ensinou o Machado a falar Inglês. Se for verdade, temos que agradecer à senhora Alencar, já que a tradução do Machado para “O Corvo” só perde para a do Pessoa, hehe (obs. vejam no fim dessa página as outras traduções da poesia do Poe. Tem até em russo!)
O problema do Alencar é, basicamente, que ele quis ser escritor.
Nah, acho que o negócio de copiar escola literária que é o problema. No final das contas, o cara era todo bem intencionado, coitado. “Senhôra”, “Senhóra”, hehehehe…
Por que o espanto, Ana Paula? Desde quando é proibido ler Poe na Rússia? 👿
Não é proibido, oras bolas! Só nunca tinha ouvido falar em tradução para o russo :mrpurple:
A bomba de Hiroshima também tinha uma boa intenção.
No sentido de falar sobre o país dele, etc.
Eu gosto de Alencar, apesar de ele copiar as escolas literárias. Escolas, aliás, são algo que eu não curto. Afinal escola literária e academia de arte é coisa de francês, e a Fraça é ocidental demais pra ser boa em qualquer coisa, hahahaa Não, sério… Eu gosto do Alencar. Mas qualquer autor que tente se prender a essas drogas de escolas literárias (com raras excessões… o Zola, por exemplo) faz merda.
smack
De Poe em russo eu fico com um pé atrás. Mas vocÊ me fez lembrar do meu(empoeirado) Gorki em original – pra quando eu conseguir passar da página 50 – e da tradução do Bóris Schiniderman. Ele é o cara.
Anica, deixa o Alencar pra lá. Você já leu MIA COUTO? É um escritor de Moçambique e os dois livros que eu li dele (Terra Sonâmbula e Uma casa chamada terra um rio chamado tempo) são, sem hipérbole nenhuma uma das coisas mais lindas que já li na vida. Minha mãe assina embaixo, ela que nos aplicou o MIA. Sério, é tudo.