Sintomas de velhice

Acho que só percebemos que envelhecemos quando nos damos conta que coisas que antes achávamos o máximo são um saco. Ou quando você consegue imaginar o tom irritante que costumava usar ao falar só ao ler seu diário, recheado de “Tipo…”, “Fiquei de cara…” e “Nunca mais vou fazer isso…” (expressão contrariada pelo dia seguinte). Ahn, enfim. Acho que finalmente posso me livrar dos meus diários. Nas palavras da grande Alice Ruiz

sem saudade de você
sem saudade de mim
o passado passou enfim

De repente deixar o passado para trás também seja um sintoma. Bem, parece óbvio que andei buscando qualquer coisa em velhos diários, não? Não encontrei o que eu queria, mas achei esse texto *muito* legal do Rodrigo Garcia Lopes (está na minha Agenda Arte de 98):

A solidão

a solidão sempre aparece com beijos & bombons
a
solidão faz visitas regulares a seus amigos íntimos
a
solidão procura o inverno em pleno verão
a
solidão brinca no mar com seus dedos de açúcar
a
solidão vive sorrindo pra desconhecidos
a
solidão ainda se emociona com filmes antigos na televisão
a
solidão tem olhos escuros, a solidão tem olhos azuis
a
solidão tem uma cerca branca com rosas e uma bicicleta
a
solidão imagina gueixas cujos olhos são borboletas de vidro
a
solidão é uma loucura e arrebata concursos de beleza
a
solidão bebe em meu corpo seu próprio desespero
a
solidão adora esconde-esconde e amarelinha
a
solidão coleciona diários e discos do Coltrane
a
solidão usa pijamas de bolinhas e óculos quebrados
a
solidão depois do sexo ainda se sente sozinha
a
solidão e eu somos apenas bons amigos
a
solidão corta meus pulsos com uma gilete de sal
depois sai chapada pelas ruas
com uma folha de alface na lapela

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