O NOIVO PERFEITO
Não que fosse uma pessoa crédula, mas aqueles eram tempos crédulos. Mas aconteceu de em uma tarde, ao caminhar na rua aproveitando o fraco sol do outono, um velho maltrapilho parou em sua frente.
Era um sujeito sujo, vestindo roupas puídas e de aspecto realmente repugnante, especialmente por causa dos olhos: tinham aquele branco característico de quem sofre de catarata. Não bastasse isso, ainda deixava um fino fio de baba escorrer por uma cicatriz no canto direito da boca.
Era de fato asqueroso, mas de tal forma que ela não conseguiu reagir e desviar. Ficou observando, esperando o velho dizer algo. Ele apontou diversas vezes na direção dela, até que finalmente sentenciou:
– Você morrerá pelas mãos da pessoa que mais ama.
E não se sabe ao certo se foi o horror à previsão do velho, ou apenas uma grande coincidência, mas o fato é que ela jamais se casou. Viveu sua juventude de namoros à namoros, nunca chegando muito além de um rápido noivado.
Quando perguntada sobre o motivo da solteirice, ela ria e dizia jocosamente:
– Está brincando? Casar para mim é literalmente pedir para morrer.
E evidentemente, todos riam. Adoravam as brincadeiras e o bom humor daquela que se tornou uma das mulheres mais populares da sociedade. O que as pessoas não sabiam é que a solidão que ela tanto defendia como um bem, transformou-se em um mal que ela alimentava horas a fio durante a noite, sozinha em seu quarto.
Era nessas horas que ela repassava vários momentos da sua vida, analisando pessoas que tanto a amaram, mas que por medo de amar (e não da previsão do velho, como sempre quis deixar bem claro), ela deixou escapar.
E sem perceber a solidão foi tomando conta, e não era mais um mal que alimentava apenas à noite. Alimentava agora todas as horas, fosse em um domingo quando não tinha companhia para almoçar, fosse durante um passeio no parque observando casais de namorados.
O mal cresceu tanto, mas tanto, que ela diminuiu. A alegria e o riso que já eram tão conhecidos, viraram uma pálida sombra do passado. Já não freqüentava mais festas, já não comia. Aos poucos foi definhando, trancada no quarto com sua solidão. E um dia, mais um daqueles dias quaisquer, não agüentando mais a solidão que criara durante os anos, acabou por se suicidar.
O velho maltrapilho não poderia estar mais correto em sua previsão.