O que você vai ser

“E no meio do inverno, eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível.”
Albert Camus

O Kado anda meio deprê por causa dos planos que dão errado, colocando em um sentido mais amplo. Ontem eu fiz piada, mas no fundo acho que entendo ele. Ou pelo menos o motivo de ele estar triste (embora eu ache que ele esteja mais confuso do que triste).

Eu sempre fui uma pessoa meio sistemática, dada a mil rascunhos antes de qualquer passo mais arriscado. Eu sei que quem me conhece de pouco tempo deve até dar risada lendo isso, mas um dia eu já fui uma dependente total da minha agenda.


Enfim, o fato é que lá pelos meus 14 anos eu já tinha toda minha vida planejada. Planejada por mim, devo lembrar. Eu ia cursar o EG (com o Muzzy, minha paixão da época), depois prestar vestibular para Jornalismo (já teria concluído o curso de Inglês na época) e um dia seria tal e qual o Lemyr Martins

Acabou que larguei o curso de Inglês, o Muzzy não fez EG e comecei a gostar mais de futebol do que de F1. Nenhuma mudança radical, o plano básico de ser jornalista continuava. Só tinha transferido o sonho de ser tipo Lemyr Martins para o de trabalhar na Placar.

Em 1999 entrei na PUC, e como toda adolescente deslumbrada com a novidade que é uma faculdade, passei mais tempo na cantina tomando café do que na aula propriamente dita. Na época eu estava quase no final do primeiro período quando decidi que ia chutar o balde e prestar vestibular para História (?!). Minha mãe me obrigou a pelo menos terminar o primeiro ano antes de sair.

Anyway, saí. E muito embora durante um punhado de anos o único arrependimento que envolvia essa minha decisão era ter me afastado das meninas de quem eu tanto gostava, depois que passou algum tempo comecei a sentir o resultado das escolhas.

Não é que eu não goste de Letras. Eu sou realmente apaixonada pelo meu curso, uma coisa que não sentia por Jornalismo (o motivo principal para deixar, aliás). Mas eu simplesmente não planejei meu futuro depois que mudei para Letras. O que eu quero, o que vai me fazer feliz de verdade.

Isso porque eu sei que vai demorar até eu poder me chamar de ‘crítica literária’ e com isso minha profissão será a de professora mesmo. E eu gosto de dar aulas. Só não quero dar aulas de Inglês.

Blah. Confusa, perdida e pensando mil vezes se não tomei o caminho errado e se deveria, no final das contas, ter cursado História (?!!) mesmo. O que incomoda é pensar que eu estaria aqui choramingando falando do quanto eu gostaria de ser crítica literária…

É cruel ter que decidir o que você quer fazer o resto da sua vida, se no final das contas você quer fazer tanta coisa. Seja lá o que você escolher, a sensação que dá é de que você está incompleto.

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