Uma boa forma de se matar uma sogra é, você aos quinze e ele com dezessete, transarem gostosamente no sofá da sala da casa da mãe dele; claro, enquanto ela dorme. Entre gemidos e sussurros, mais ou menos discretos, ela acorda, e você a mata de susto.
Outra boa sugestão é você sair com seu amado para acampar e entre tantas delícias “esquecer” de dar notícias por duas semanas (o tempo deve ser graduado segundo cada sogra, para algumas dois dias são suficientes). Desta forma, você a mata de preocupação infundada.
Se não der certo com essa fórmula, ao voltar do acampamento, você devolve ele para a mamãe cinco quilos mais magro, todo queimado de sol e com uma mala de roupas sujas de lama. Você a mata de desgosto.
E muitas outras formas existem, como esquecer calcinhas sensuais dentro do porta-luvas do carro, manchar de batom a cueca branquinha dele, pedir um tempo na véspera de um concurso importante, transar demais, transar de menos, abortar, não abortar, usar saias curtíssimas que ele adora, não usar batom rosa-chá, não ter a menor idéia de como se faz sopa de legumes e toda e qualquer coisa que você possa fazer para fazer dele um homem feliz. Talvez nem tão saudável ou inteligente, ou rico, mas feliz.
Acontece que, via de regra, uma sogra morre mesmo de qualquer coisa: de ciúme, de vingança, de mau pressentimento, de medo do futuro, de medo de doenças, de ingratidão, morre de tanto amor, morre de tudo, menos de verdade.
É que eu não quero alimentá-lo, lavá-lo, passá-lo, costurá-lo ou cozinhá-lo. Porque essa é a natureza do amor dela. Eu quero é comê-lo, mordê-lo, arranhá-lo, emagrecê-lo, amassá-lo, sujá-lo tanto, até que desmaie sobre mim e aqui fique. Porque essa é a natureza do meu amor.
(Da Agenda Arte de 98)