Foi uma fase importante para mim, como leitora. Porque me apaixonei pela Inglaterra vitoriana descrita por Conan Doyle, e a partir disso quis ler mais livros desse período. Digamos assim: foi por causa dele que cheguei aos meus primeiros clássicos. E eis que passei um bom período completamente obcecada pela personagem. De ficar feliz de ter a sorte de gravar em uma fita vhs Dressed to Kill, com Basil Rathbone como Sherlock (e na minha cabeça ele sempre foi “o” Sherlock), por exemplo.
Dito isso acho que nem preciso explicar minha curiosidade quando comecei a ler notícias sobre a série da BBC chamada Sherlock. Mas a curiosidade sempre acabava sendo vencida por “aquele” pé atrás: como assim histórias de Sherlock nos tempos atuais? COMO farão isso? Apesar de livros como Desvendando o Arco-Íris de Richard Dawkins, fui sempre da opinião de que a ciência estragou um pouco a possibilidade de histórias como as de Sherlock. Além disso, quando você gosta MUITO de uma coisa, é óbvio que você fica um tantico… ahnnnnmm… xiita. “Esse ator não tem nada a ver com o Sherlock!” – como se Doyle tivesse sido muito preciso sobre o físico do sujeito. O pouco que lembro de descrição sobre Holmes era o “nariz aquilino”. Mas que seja, acabei me enrolando e só comecei a assistir a série no ano passado, fazendo uma promessa de não ser fã chata que fica arrumando ‘n’ defeitinhos e simplesmente me divertir.
E olha, não tem nem como ficar achando defeitinhos. A ideia de trazer para os tempos atuais faz de Sherlock mais uma série baseada nos livros do que uma adaptação, digamos assim. Há mudanças grandes, como a presença de Moriarty como o grande inimigo desde o começo (lembrando que nos livros não é bem assim). Há também outras pequenas, como o fato de Holmes não consumir ópio. Mas fica nítido que as mudanças são necessárias justamente para trazer um Sherlock crível para os tempos atuais. Há toda uma sensação de familiaridade mas ao mesmo tempo de novidade: no primeiro episódio, por exemplo (A Study in Pink), elementos da primeira aventura de Holmes e Watson estão lá, ao mesmo tempo que o caso é montado de um jeito completamente diferente. Ou seja: anula qualquer mimimi de fã xiita.
Das principais mudanças as que eu mais gostei foram justamente a do já citado Moriarty e de Lestrade. Quem leu os livros sabe como Lestrade é completamente nojento, impossível de se gostar: sempre colhe os louros dos casos resolvidos por Holmes, que o define como um completo idiota. Na série, ele continua sendo um idiota (como todo mundo é para os olhos do detetive, no final das contas), mas ainda assim ele tem o respeito e uma espécie de vínculo com Holmes, tornando a personagem interessante e carismática quando poderia ser só o sujeito com cara de rato dos livros.
No caso de Moriarty, o trabalho do ator Andrew Scott é simplesmente fantástico (se você ainda não viu a série, faça um favor para você mesmo e não google o nome do rapaz, sim?). A ideia do sujeito insano mas genial não é qualquer novidade, mas é sempre bom ver um desses tipos na tela, não? Para quem tem queda por antagonistas, alguém que consegue chutar a bunda de Holmes e chamá-lo de ordinário deve estar em alguma espécie de lista de favoritos. Sim, é evidente que toda a cisma dele com Holmes é meio forçada – já que ele leva uma clara vantagem sobre o detetive, não dá para entender porque ele simplesmente não acaba com o rival. Mas por mais que nós tenhamos noção disso, não tem como não achar divertido, intrigante e ao mesmo tempo não adorar Mortiarty, como quando ele diz “Honey, you should see me in a crow” depois de um assalto espetacular.
E o engraçado é que normalmente histórias em que os “vilões” ganham nossos corações aparentemente trazem “mocinhos” fracos ou mesmo sem graça, mas não é o que acontece em Sherlock. A dupla Holmes e Watson (interpretada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman respectivamente) tem uma química impressionante, desde o primeiro episódio. A velha dinâmica de um Holmes surpreendendo seu amigo a cada nova dedução continua ali, aliás, o comportamento do protagonista continua o mesmo, como fica claro no trecho a seguir:
E mesmo sendo esse completo babaca, ele é encantador. Lembra sim bastante o House, mas acho que nunca é demais lembrar que a inspiração para o médico sempre foi o detetive de Conan Doyle. Esse jeito de Holmes empresta um pouco de humor para o que poderia ser só uma série de investigação, além é claro da boa e velha Mrs. Hudson e das ‘n’ referências às histórias ou mesmo ao que já faz parte do imaginário popular quando o assunto é Sherlock Holmes. Por exemplo, o chapéu usado pelo detetive não é mencionado nos livros, mas ganhou força por causa das primeiras adaptações para o teatro. Na história não teria cabimento a personagem de Cumberbatch usar esse tipo de acessório, mas eles fazem de tal maneira que, em dado momento, Watson diz “Esse é um chapéu de Sherlock” – tal como nós, nos dias de hoje, reconhecemos o modelo de chapéu em questão.
Cada episódio tem em média uma hora e meia de duração, o que é quase a mesma coisa que assistir a um filme. Já são duas temporadas com três episódios cada, com uma promessa de terceira temporada ainda para esse ano, apesar de alguns atrasos. Das duas que já foram lançadas, minha favorita é a segunda, até porque tem dois dos episódios que mais gostei: The Hounds of Baskerville e The Reichenbach Fall (que foi um daqueles em que chorei copiosamente como se não houvesse amanhã). Todos os outros são bons também, não entendam errado: mas esses dois são especiais.
Adorei alguns recursos utilizados como as imagens que aparecem na tela representando mensagens de texto que Sherlock está enviando, gostei muito mesmo de vários diálogos e mais do que tudo, adorei como provaram que eu estava completamente enganada e que dá para fazer histórias como as de Sherlock nos dias de hoje.
Em tempo: para quem tem Netflix, lá eles estão com a primeira temporada completa, já dá para ter uma boa ideia de como é a série.
Eu já revi cada temporada duas vezes. Uma pena que a terceira talvez seja a última, espero que não =(
Por mim duraria para sempre, mas os boatos dizem que quase que nem a terceira rolou (e já falam até de ela acabar saindo só em 2014 >
Eu tinha grandes expectativas com a série por ser dos mesmos produtores de Doctor Who. Não acreditava na possibilidade de ser ruim. Mas fui ver com uma amiga fã do Conan Doyle e quando ela viu que era nos dias atuais, ficou bem chateada. Teve exatamente isso de “ele não tem nada a ver com o Sherlock, que absurdo!”. Basta dizer que no final do episódio ela estava boquiaberta implorando pela temporada completa.
É muito bem feita, né? Não tem como não gostar. Das opiniões que vi por aí, até quem critica os plots acaba dizendo que a série é imperdível. =D
Eu cheguei a ver série americana, mas achei chata. Todo mundo fala que a original inglesa é beeemm melhor.
ps; lendo isso, eu me lembrei de O Enigma da Pirâmide, clássico da Sessão da Tarde há uns dez anos atrás, hehe.
Do que eu vi parece que não tem muito a ver com a inglesa, fora a ideia de situar um Sherlock nos dias de hoje. Mas sabe que mesmo com tanta gente metendo o pau eu ainda estou um pouco curiosa? Adoro o jonny lee miller =F
Sobre O Enigma da Pirâmide, nossa, meu filme de sessão da tarde favorito <3
A Lucy Liu ficou legal no “papel” de Watson. Mas o Jonny Lee Miller não conseguiu atingir aquela excentricidade esnobe de Holmes sem ao mesmo tempo parecer antipático. No cinema, Robert Downey Jr fez isso com proeza, ainda que os filmes fossem um lixo.
Imagino. É complicado criar uma personagem como o Holmes. Ele tem que ser um filho da mãe carismático, caso contrário é só um filho da mãe.
Gostei muito dessa série!
Apesar de se passar nos dias atuais, achei a personalidade de Sherlock da série muito semelhante ao dos livros, e muito mais interessante e carismática do que o dos filmes…
O que eu acho mais engraçado é justamente isso: como gostamos tanto do Sherlock sendo ele como ele é. Só carisma para explicar mesmo =F
Agora já tem segunda temporada no netflix _o/
me parece que vai sair quarta temporada sim. outra coisa, melhor para se fazer programas não existe além da bbc, então era de se esperar que fosse um sucesso e maravilhosa.